Sexualidade e tradição na índia
As origens da Índia repousam na
civilização que floresceu no vale do Hindu, entre 3.000 e 1.500 a. C.
Elementos culturais, ideológicos e religiosos
têm sido descobertos por escavações arqueológicas realizadas nessa região, principalmente
porque a escrita dos povos que ali viveram, ainda não foi traduzida. Mas os
autores são mais ou menos unânimes, no entanto, em admitir a existência na
civilização do Hindu de uma forma de culto ao falo, não só pela ocorrência de
representações iconográficas do pénis, mas também por indícios textuais
posteriores, nos Vedas, que abordam o assunto. Tal prática religiosa ainda
existe no subconsciente indiano. O culto do lingam,
o pénis, está atualmente relacionado à celebração do poder criador do deus
Shiva, ou à sua essencial força geradora, de natureza masculina.
É interessante o fato da representação
icónica do lingam estar
historicamente associada à uma vulva ou útero, simbólica, yoni. Esta transformação da vagina em ícone, em conjunto com o pénis,
ou de forma isolada, parece igualmente ser muito antiga. Provavelmente, tem as suas
origens míticas em divindades neolíticas. Muitas figuras femininas de terracota
são encontradas na civilização do Hindu, desde períodos anteriores à
urbanização. Alguns autores, chamam a atenção para a recorrência histórica do
culto de Devi, a deusa, especialmente
no espaço rural indiano, de forma persistente ao longo dos séculos. Tal
divindade feminina é repleta de subtilezas e dimensões, e assume diferentes
formas, de acordo com o momento ou regiões estudados. Não se pode deixar de
reconhecer que esse culto represente a exteriorização religiosa da ideia de que
o masculino e o feminino desempenham papéis análogos na organização da ordem
das coisas, e que o feminino também está imbuído do sagrado.
Nos Vedas,
as mulheres parecem realmente ter um status
de igualdade significativo. Diversos sacrifícios rituais só podiam ser
realizados por mulheres, como a cerimónia realizada na época da colheita ou a que pretendia obter bons maridos para as suas filhas. As mulheres eram portanto
autorizadas a recitar os hinos védicos, ou seja, estudá-los, e em muitos
rituais havia um intercâmbio entre os dois sexos na condução da cerimónia. Este
processo abria um espaço para o exercício de uma experiência religiosa
feminina, ou para sua valorização, o que reafirma, pelo menos de forma básica,
a ideia da igualdade religiosa entre os sexos. É necessário recordar que o
monismo védico (nome dado às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo) engendrava a conceção de uma unidade essencial
das coisas, existente para além das diferenças, inclusive as sexuais.
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