quinta-feira, 12 de maio de 2016


Sexualidade e tradição na índia

As origens da Índia repousam na civilização que floresceu no vale do Hindu, entre 3.000 e 1.500 a. C.
Elementos culturais, ideológicos e religiosos têm sido descobertos por escavações arqueológicas realizadas nessa região, principalmente porque a escrita dos povos que ali viveram, ainda não foi traduzida. Mas os autores são mais ou menos unânimes, no entanto, em admitir a existência na civilização do Hindu de uma forma de culto ao falo, não só pela ocorrência de representações iconográficas do pénis, mas também por indícios textuais posteriores, nos Vedas, que abordam o assunto. Tal prática religiosa ainda existe no subconsciente indiano. O culto do lingam, o pénis, está atualmente relacionado à celebração do poder criador do deus Shiva, ou à sua essencial força geradora, de natureza masculina.
É interessante o fato da representação icónica do lingam estar historicamente associada à uma vulva ou útero, simbólica, yoni. Esta transformação da vagina em ícone, em conjunto com o pénis, ou de forma isolada, parece igualmente ser muito antiga. Provavelmente, tem as suas origens míticas em divindades neolíticas. Muitas figuras femininas de terracota são encontradas na civilização do Hindu, desde períodos anteriores à urbanização. Alguns autores, chamam a atenção para a recorrência histórica do culto de Devi, a deusa, especialmente no espaço rural indiano, de forma persistente ao longo dos séculos. Tal divindade feminina é repleta de subtilezas e dimensões, e assume diferentes formas, de acordo com o momento ou regiões estudados. Não se pode deixar de reconhecer que esse culto represente a exteriorização religiosa da ideia de que o masculino e o feminino desempenham papéis análogos na organização da ordem das coisas, e que o feminino também está imbuído do sagrado.

Nos Vedas, as mulheres parecem realmente ter um status de igualdade significativo. Diversos sacrifícios rituais só podiam ser realizados por mulheres, como a cerimónia realizada na época da colheita ou a que pretendia obter bons maridos para as suas filhas. As mulheres eram portanto autorizadas a recitar os hinos védicos, ou seja, estudá-los, e em muitos rituais havia um intercâmbio entre os dois sexos na condução da cerimónia. Este processo abria um espaço para o exercício de uma experiência religiosa feminina, ou para sua valorização, o que reafirma, pelo menos de forma básica, a ideia da igualdade religiosa entre os sexos. É necessário recordar que o monismo védico (nome dado às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo)   engendrava a conceção de uma unidade essencial das coisas, existente para além das diferenças, inclusive as sexuais.

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